Marcha
para Jesus tenta fugir de política e corta vídeo de Temer
Evento realizado em São Paulo
desde 1993 é o maior do tipo no mundo
por Jarbas Aragão
A Marcha para Jesus surgiu em Londres, em 1987,
quando o pastor pentecostal Roger Forster conseguiu reunir vários cristãos para
orar pela cidade. Em meio à “explosão” de crescimento de evangélicos no país,
na década de 1990, ela chegou ao Brasil.
A primeira foi em São Paulo, em 1993, realizada por iniciativa de
Estevam Hernandes, apóstolo da Igreja Renascer em Cristo, reunindo cerca de 300
mil pessoas na Avenida Paulista. A versão nacional ganhou ares de Carnaval
gospel, com trios elétricos, muita música e, em anos eleitorais, um forte apelo
político.
Nesta quinta-feira (15/06), ocorre a 25ª edição da Marcha para Jesus de
São Paulo, considerada o maior evento do tipo no mundo. Diversas cidades
brasileiras têm suas próprias marchas todos os anos, geralmente atraindo pessoas
de diferentes igrejas para momentos de oração e louvor. Em geral, nas capitais
a marcha é organizada pelos conselhos de pastores e igrejas locais, sem ligação
com a Renascer.
Mas nenhuma é tão popular quanto a versão paulistana, que no ano passado
atraiu 4,8 mil caravanas, vindas de todo o país. Esta é a Marcha que entrou
para o calendário oficial do país em 2009, quando uma lei federal, sancionada
pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, instituiu o Dia Nacional da
Marcha para Jesus, que deve ocorrer no primeiro sábado, 60 dias após a Páscoa.
Mas em novembro de 2015, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin
assinou uma lei que oficializava o feriado de Corpus Christi como a data anual
do evento no estado.
Em versões passadas ela chegou a reunir mais de três milhões de pessoas
na capital paulista, mas nos últimos anos a polícia afirma que o número de
pessoas este ano é 10% disso. Houve redução no número de trios este ano (8) em
relação a 2016 (eram 14)
Na verdade, houve um certo desgaste na imagem do evento por conta de seu
uso político. Em várias edições ela teve discursos nesse sentido e um discurso
sobre a necessidade dos evangélicos “assumir os espaços” no cenário político
nacional. Mas o deputado federal Marco Feliciano (PSC/SP), pré-candidato ao
Senado, entende que “a marcha é a conquista de um segmento que sofreu
perseguição e preconceito –e ainda sofre”.
Este ano, porém, Hernandes enfatizou que o evento promovido por ele
passa longe de qualquer motivação eleitoral. “A Marcha não tem objetivos
políticos, mas, apenas, o de unir as pessoas em torno do amor por Cristo.
Também, é uma manifestação de amor pelo país, quando oramos por nossas
famílias, mas também pelo futuro da pátria”, assegura.
Mesmo assim, na oração que abriu o evento, o apóstolo pediu: “Pai, tira
a fome e a corrupção. O Deus de paz vai esganar o satanás sob os teus pés”.
Temer vetado
Apesar de tentar desvincular a questão política da religiosa, o
Instagram do apóstolo Estevam Hernandes, nas últimas semanas exibia vídeos dos
prefeitos João Doria (PSDB-SP) e Marcelo Crivella (PRB-RJ) e o deputado federal
Tiririca (PR/SP), convidando para o evento.
Também apareceram por lá o jogador Neymar, o técnico do Corinthians,
Fábio Carille, os apresentadores Raul Gil e Sonia Abrão, além do sambista
Neguinho da Beija Flor.
Mas essa ação convocatória sofreu um desfalque: o presidente Michel
Temer gravou um chamado para o evento evangélico do país, a pedido do deputado
federal Marcelo Aguiar (DEM-SP), que é ligado à Renascer.
No vídeo, Temer exalta o “modelo de congregação de pessoas que confessam
a mesma fé […] e especialmente confiam no Brasil”. Acompanhado da hashtag
#todalínguaconfessará, o vídeo foi publicado seis dias antes da divulgação dos
áudios do presidente com Joesley Batista.
Segundo a assessoria de imprensa da Renascer em Cristo, depois de todas
as denúncias recentes, o apóstolo “achou melhor tirar até que elas fossem
apuradas”.
O coordenador da Marcha para Jesus 2017, bispo Leandro Miglioli, mais
conhecido como bispo Lê, afirmou que “A Marcha não tem como objetivo exaltar
qualquer coisa negativa acontecendo no Brasil, a não ser orar por ele. Vamos
marchar, sim, para Deus abençoar nosso país”.
O evento tem um custo estimado em R$ 1 milhão. A Prefeitura banca parte
do valor, mas a maioria da renda vem da venda de camisetas temáticas, explica o
bispo Miglioli. Com informações Folha
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