Pastora
trabalha há mais de 10 anos na Cracolândia: “Chamado”
Nildes Néri diz que pastoreia uma
“igreja sem teto e sem paredes”
por Jarbas Aragão
A baiana Nildes Néri, de 50 anos, há 13 trabalha
junto aos usuários de drogas da região da Cracolândia em São Paulo. Pastora
evangélica, ela chegou com o marido e duas filhas, de 11 e 15 anos, para ser
missionária pela Igreja do Evangelho Quadrangular na capital paulista.
Para ela, foi uma grande mudança em todos os sentidos. “Eu nunca tinha
visto na minha vida tanta gente numa rua usando drogas”, lembra. “Vendo as
famílias ali, comecei a me preocupar com elas. E da janela de onde eu morava eu
via as pessoas morrendo. E acho que a maior necessidade delas muitas vezes era
ter alguém para conversar. Era um ouvido, um abraço, um aperto de mão, um bom
dia. E eu olhei e falei, quero ajudar essas pessoas”, relata Nildes.
Começou a obra fazendo um “trabalho de formiguinha”. “Levava eles para
um espaço para dar banho, para dar comida, para ouvir. Então a nossa casa se
tornou um lugar onde eles batiam todos os dias”, afirma.
Aos poucos ela foi ficando conhecida. Um dia uma pessoa a procurou e
disse: “Pastora, nós estamos com uma criança aqui, o pai saiu e não voltou”. O
menino tinha 4 anos e seu pai, descobriram depois estava preso. Nildes foi
atrás da família e acabou encontrando o avô da criança, que não tinha condições
financeiras para criá-lo. Ele decidiu ficar com a guarda.
Rafael hoje tem 12 anos e conhece sua história, só tendo conhecido o pai
biológico recentemente.
Cerca de um ano depois de adotar o primeiro, Nildes recebeu em sua casa
uma usuária de crack, com o filho de 6 meses no colo. Um dia, a mãe saiu e não
voltou mais. A Justiça concedeu a guarda de Kauan para a pastora. Hoje, ele tem
7 anos e é o caçula dos quatro filhos.
A pastora teve seu trabalho reconhecido e foi convidada para trabalhar
no Programa Recomeço, do governo estadual, que presta atendimento a dependentes
químicos. Atualmente ela coordena os conselheiros da tenda que fica numa
esquina movimentada do centro. Ela também virou presidente de uma ONG que
trabalha com dependentes, o Centro Assistencial ao Povo Carente de São Paulo.
“Me sinto muito honrada de estar aqui. Eu me sinto muito honrada quando
eu entro dentro da Cracolândia e eles escondem o cachimbo, e eles falam, ‘olha
a pastora’. É o respeito, né”. “Eu me sinto grata, porque é uma oportunidade
que Deus tá me dando pra eu servir o meu semelhante”, revela Nildes.
Para ela, esse “É um chamado incondicional, não é pela religião, não é
pela igreja. Eu entendo que eu, como cristã, tenho uma responsabilidade”. Sua
opção é de não sair pelas ruas com a Bíblia na mão. “Não imponho religião, não
ando orando com ninguém, mas quando eles pedem ‘pastora, ora por mim’, eu
faço”, explica.
“Costumo dizer que sou uma pastora de uma igreja sem teto, de uma igreja
sem parede, onde eles não são proibidos de entrar”, ressalta. Com
informações G1
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