Evangélicos
se multiplicam na França e evangelizam muçulmanos
Igrejas evangélicas vencem antiga
resistência francesa a protestantismo
por
Jarbas Aragão
Durante muito tempo, as igrejas evangélicas da França aguardaram um
“sinal de reconhecimento oficial do governo francês”, mas “finalmente
conseguiram”, explica o jornal Le Monde, que analisou a expansão dos
evangélicos no país.
Por questões históricas, que remetem aos desdobramentos da Reforma
Protestante no século 16, toda igreja cristã não católica era vista como seita
pelos franceses. Agora, pela primeira vez o presidente do Conselho Nacional dos
Evangélicos da França esteve presente na cerimônia de posse de um presidente
francês, Emmanuel Macron, no último 14 de maio.
“Eu estava ao lado dos representantes dos muçulmanos, dos católicos, dos
judeus, da Federação Protestante da França e dos budistas”, comemorou Etienne
Lhermenault.
Outra notícia boa foi a nomeação de Edouard Phillippe como
primeiro-ministro. Ele era prefeito do Havre (norte do país), região com
ligações históricas com evangélicos na França. “Ele sabe quem somos”, declarou
Lhermenault ao Le Monde.
Ainda segundo o jornal mais lido pelos franceses, “o funcionamento [das
igreja evangélicas] se faz sem barulho, mas sua vitalidade pode ser conferida
nas estatísticas – segundo o CNEF, o número de evangélicos nas grandes cidades
se multiplicou por dez desde 1950, contabilizando hoje 500 mil praticantes
regulares”.
Considerados sectários, até pouco tempo atrás o evangélico “era
percebido [na França] como um estúpido à la George Bush Jr; hoje ele é visto
como um africano animado”, explicou o presidente do CNEF.
“O resultado é que nós somos ainda percebidos como uma espécie de
seita”, reclama o pastor Franck Lefilattre. “Você tem que estar pronto a
receber diversos nãos”, acrescenta o também pastor Samuel Foucachon, que há
anos vem tentando, sem sucesso, regularizar sua igreja perto da região de
Marselha (Sul) e Bordeaux (Sudeste).
“Houve um caso onde chegaram a nos dizer: ‘se aceitarmos sua
solicitação, perdemos a prefeitura’. Cada um deve se virar por si próprio”,
narrou Foucachon. Alguns teatros de Paris estão alugando suas salas para grupos
evangélicos, para aumentar suas receitas mensais.
Alcançando muçulmanos
A estratégia de alcançar os muçulmanos que crescem continuamente no
França é diferente das antigas práticas de abordagem e distribuição de
folhetos. “Isso não dá certo!”, afirma o pastor David Brown, presidente da
Comissão de Evangelização do Conselho Nacional dos Evangélicos da França
(CNEF). “Os franceses consideram a religião como um assunto privado e não
querem ser catequizados em locais públicos”, explica.
Um dos motivos disso é que os missionários americanos, antes bastante
presentes em território francês, agora são cada vez mais raros. “A importação
de práticas ‘made in USA’ nunca fez muito sucesso na França”, analisa o Le
Monde.
O sociólogo de religiões Jean-Paul Willaime aponta que o método mais
usado hoje para atrair pessoa é por meio de ações sociais e humanitárias
(Bazares, apoio escolar, alfabetização, luta contra as drogas e o alcoolismo
etc) e das redes interpessoais, como vizinhos, amigos e família.
“Sem esquecer a multiplicação dos cultos à noite, rápidos e festivos,
destinados aos jovens ativos”, afirma Le Monde.
“Evangelizar a França é uma prioridade… começando pelos muçulmanos”, descreve o jornal.
Isso se dá principalmente por que os bairros populares e periféricos,
onde vivem a maioria dos imigrantes, são claramente identificados como “terras
missionárias”.
O pastor Belkacem Germouche, por exemplo, acaba de montar um grupo
chamado “Alleluia North Africa”, onde encontros inter-religiosos são
bem-vindos. Sua igreja acolhe, duas vezes por semana, cerca de trinta mulheres
muçulmanas para cursos de alfabetização.
“Hoje em dia, não é porque você nasce numa família muçulmana que é
muçulmano”, avalia Karim Arezki, presidente da Associação de cristãos do norte
da África, criada em 2003. “Eles sabem que nós queremos evangelizar e nós
sabemos que eles querem nos converter ao Islã”, resume Arezki.
O Le Monde conta ainda que muitos muçulmanos já convertidos pelos
evangélicos preferem não admitir isso publicamente, por medo de serem isolados
por seus grupos sociais ou mesmo perseguidos. Apesar disso, seu crescimento é
notável.
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