MULHERES SOLTEIRAS SE TORNARAM A “GRANDE FORÇA” DO TRABALHO MISSIONÁRIO
Quase metade do trabalho de
tradução da Bíblia para povos não alcançados foi feito por elas
por Jarbas Aragão
Nas décadas de 1930 e 1940 a maioria das denominações evangélicas
hesitava em mandar mulheres para áreas remotas, temendo por suas vidas. A
Missão Wycliffe, especialista no trabalho de tradução da Bíblia para povos não
alcançados tinha muita dificuldade em quebrar esse paradigma, mas desde então
centenas de mulheres aprenderam línguas faladas por minorias étnicas para poder
oferecer as histórias da Bíblia nesses idiomas.
As mulheres solteiras, em particular, tiveram um papel de grande
importância no trabalho missionário de tradução da Bíblia. “Se não tivesse sido
por elas, ao longo dos 70 anos de história da Wycliffe, metade das traduções
não teriam sido concluídas”, calcula Russ Hersman, um dos líderes da missão.
De fato, além de serem tradutoras, muitas mulheres também se envolviam
no trabalho de alfabetização. A tradutora aposentada Anne West, 82 anos,
lembra: “Não importa qual seja a situação. Se Deus te enviou, ele estará ao seu
lado.”
Ela foi para as Filipinas no início dos anos 1960 e passou metade de sua
vida trabalhando em projetos para traduzir a Bíblia em dialetos locais, como o
Ifugao, uma língua regional falada por 130.000 pessoas. Permaneceu solteira
pelos 47 anos que passou no Sudeste Asiático. Anne casou-se no mês passado, com
um viúvo que conheceu na igreja que participa.
Enquanto estava no exterior, ela confessa que a solidão era sua maior
luta, mas ela entende que a solteirice era um propósito de Deus. “Se eu fosse
casada, não poderia fazer o que estava fazendo”, explica a senhora West. “Eu
nunca pensei que desejava ficar solteira para sempre, mas sabia que não seria
capaz de fazer muitas coisas caso tivesse uma família para cuidar.”
De forma similar, as pioneiras do trabalho da Wycliffe, Florence Hansen
e Eunice Pike, que foram para o México em 1936 para trabalhar em uma aldeia
onde nenhum missionário tinha estado antes. Elas completaram a primeira
tradução do Novo Testamento em uma língua indígena no país e serviram de
exemplo para muitas mulheres solteiras.
Em 1944, dois terços dos linguistas que trabalhavam no México eram
mulheres. Hoje em dia, 85% dos tradutores da Wycliffe são do sexo feminino.
Para Hersman, cabe a pergunta: “Será que as mulheres estão mais abertas que os
homens ao chamado de Deus para as missões estrangeiras?”.
Essa discrepância entre os percentuais de homens solteiros e mulheres
solteiras no campo missionário levou muitos na igreja a fazer a mesma pergunta.
Tammy Schutt, que em 2013, coordenou um estudo sobre o avanço das mulheres nos
programas missionários de formação linguística, concluiu que “este é um campo
no qual as mulheres são altamente qualificadas e sentem-se em pé de igualdade
com os homens. E muito disso é porque elas provaram seu valor”.
Todos no campo missionário trabalham duro e se sacrificam muito. Mesmo
assim, algumas mulheres solteiras precisam dar um “duro extra”. Embora evitem
generalizações ou estereótipos, homens e mulheres envolvidos na tradução
reconhecem os benefícios das habilidades mais proeminentes dessas mulheres,
como a construção de relacionamentos, a inteligência emocional e a comunicação.
Sue Pearson, coordenadora de tradução global da Wycliffe, arrisca um
veredito científico: “Mulheres tendem a fazer melhor o trabalho de tradução, já
que têm mais conexões no cérebro entre os lados esquerdo e direito, o que
aumenta a área da criatividade”.
De fato, artigos na revista científica Journal of Neuroscience mostram
pesquisas que indicam como essa maior interatividade entre os hemisférios cerebrais
oferece às mulheres uma vantagem sobre os homens ao realizar certas tarefas
linguísticas. Esta habilidade é mais visível na fonologia, quando é necessário
analisar os padrões de som na fala humana.
A doutora Person, que passou com seu marido Dave, mais de 30 anos
trabalhando com tradução da Bíblia no Chade, no Quênia e na África Oriental,
conta que foi Katharine Barnwell, quem desenvolveu o curso para tradutores que
até hoje é usado em toda a organização. “Sua bondade, seu impressionante
conhecimento e sua profunda espiritualidade” fizeram dela um exemplo campo
missionário.
Russ Hersman conta que mesmo no século 21, tradutoras podem ter
restrições em culturas patriarcais, que revela que em algumas estruturas
sociais elas obtém um sucesso incrível.
Ele menciona uma área onde a Wycliffe temia que as tradutoras não seriam
aceitas pelos líderes tribais. “Mais tarde ouvimos deles que, se os
missionários homens tivessem vindo antes, eles seriam mortos”, disse ele.
Aquelas mulheres foram capazes de abrir um canal de comunicação por que
chegaram sozinhas e “não eram vistas como ameaça”. Com informações Christian Today
0 comentários:
Postar um comentário