GOVERNO
EXCLUI ENSINO RELIGIOSO DA BASE NACIONAL CURRICULAR
Justificativa baseia-se em
assegurar o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil e proibir quaisquer
formas de conversão a determinada religião

por
Cristiano Medeiros
O ensino religioso foi excluído da nova versão da base nacional
curricular, documento que servirá como referência para o ensino das escolas
públicas e particulares de todo o país. Presente nas duas primeiras versões, a
matéria foi retirada da última edição do documento, que foi entregue na
quinta-feira (6) ao Conselho Nacional de Educação, órgão ligado ao Ministério
da Educação (MEC).
Anteriormente o projeto da base indicava diretrizes para o ensino
religioso tanto nos anos iniciais quanto finais do ensino fundamental. Em um
dos trechos, o documento explicava que “a escola, diante de sua função social,
pode contribuir para a promoção da liberdade religiosa e dos direitos humanos,
desenvolvendo práticas pedagógicas que enfrentem e questionem processos de
exclusões e desigualdades, e que encaminhem vivências fundamentadas no
conhecer, respeitar e conviver entre os diferentes e as diferenças”.
No novo documento, o MEC afirma que a área foi excluída para atender o
que diz a Lei de Diretrizes e Bases, que define as normativas da educação no
país. A lei determina que o ensino religioso “constitui disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental”, mas que a definição dos
conteúdos cabe aos sistemas de ensino, “assegurado o respeito à diversidade
cultural religiosa do Brasil e vedadas quaisquer formas de proselitismo”.
De acordo com a Folha de São Paulo,
a diretriz aponta que os municípios e Estados são responsáveis pela competência
do tema. “Não cabe à União estabelecer base comum para a área, sob pena de
interferir indevidamente em assuntos da alçada de outras esferas de governo da
federação”, informa a nova versão da base. A nota lembra ainda que a matrícula
em ensino religioso é optativa ao aluno, apesar de a oferta ser, em tese,
obrigatória pelas redes.
Eduardo Brasil, secretário do Coner (Conselho de Ensino Religioso do
Estado de São Paulo) acredita que o projeto é um retrocesso. “A base [anterior]
era um avanço com a possibilidade de desconstrução do ódio religioso. Não há
como negar que a cultura muçulmana tem uma influência no mundo gigantesca. Ou
que guerras que estão acontecendo têm como pano de fundo religiões. A única
maneira de acabar com o preconceito é conhecendo a religião do outro.”
Estudo torna-se opcional
O secretário de educação básica do MEC, Rossieli Silva, diz que a
exclusão do conteúdo ocorre devido ao fato do ensino religioso não ser
obrigatório. “Entendemos que, diante de todo o quadro, e do Estado sendo laico,
isso deve ser uma discussão direta do currículo dos sistemas [de ensino]”,
declarou.
Para Valmir Biaca, professor de ensino religioso e técnico-pedagógico da
Assintec (Associação Inter-Religiosa de Educação), do Paraná, há desconhecimento
no país sobre o que deve ser visto, de fato, como ensino religioso. “Vemos o
ensino religioso como área de conhecimento, e que trabalha conteúdo, não
religião. Religião é igreja, escola é conhecimento. O que para a igreja é
objeto de fé, para nós é conhecimento. Muitos são contra por não saber disso”,
diz.
Nos últimos meses, a abordagem de ensino religioso na base curricular já
era alvo de disputas durante a construção do documento, o que fez ganhar força
a ideia de retirada, segundo especialistas que acompanharam as discussões.
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