Professor
usa Bíblia para ensinar história em presídio
Projeto inovador foi selecionado
pelo prêmio Educador Nota 10
por
Jarbas Aragão
O projeto educacional “Regime Fechado, Visão Aberta”, criado pelo
professor de história Di Gianne de Oliveira Nunes, 42 anos e executado no
presídio de Lagoa da Prata, região centro-oeste de Minas Gerais, é um dos
concorrentes ao prêmio Educador Nota 10.
O elemento diferencial da iniciativa é o fato dele usar
a Bíblia como livro-texto. O educador que se formou em direito, mas
desde 2004 descobriu que história era sua real paixão, explica que a escolha se
deu devido à facilidade de acesso ao livro, facilmente conseguido no sistema
prisional por causa de ações evangelísticas de religiosos.
Nunes diz que decidiu transformar seus sete alunos, chamados de “recuperandos”,
em investigadores dentro da cela. A maioria deles, com idades em torno dos 30
anos, passou a conhecer a cultura de povos antigos como os fenícios, persas,
gregos e romanos.
O professor mescla elementos históricos com relatos bíblicos. Por
exemplo, quando afirma que os persas tinham um sistema de correios, aponta para
o versículo encontrado em Ester 8:10: “E escreveu-se em nome do rei Assuero (da
Pérsia) e, selando-as com o anel do rei, enviaram as cartas pela mão de
correios a cavalo, que cavalgavam sobre ginetes, que eram das cavalarias do
rei”.
Assim, alunos e educador comprovaram a veracidade da comunicação via
cartas da Pérsia, precursores do sistema de correspondência, usado para
estreitar as fronteiras do Império.
Além disso, os textos bíblicos também apontam para situação atuais, como
o conflito no Oriente Médio. “Partiu dos alunos a reflexão de que o Estado
Islâmico tem destruído importantes sítios arqueológicos na Síria e no Iraque,
em locais citados pela Bíblia”, relata Nunes.
Outros aspectos destacados por ele são a melhora na autoestima e no
relacionamento entre os presos. Seu projeto teve trabalhos apresentados para as
outras turmas no presídio. “Alguns nunca tinham exposto um estudo em voz alta.
Outros mal tinham manuseado a própria Bíblia”, lembra. “Um aluno dizia que
sentia culpa ao pensar no livro sagrado. Como leria a Bíblia com o
passado no tráfico de drogas? Mas ele quebrou essa barreira.”
Segundo o professor, “A educação muda a vida de uma pessoa. Esses homens
voltarão para a sociedade com um diploma e novas habilidades”. Para ele, “O
Estado tem que punir e recuperar. Todo sistema carcerário do Brasil deveria ser
assim: transformando indivíduos em pessoas melhores.”
Di Gianne foi escolhido um dos dez melhores professores do ano
pelo Prêmio Educador Nota 10, promovido
pelas fundações Victor Civita e Roberto Marinho. Dia 30 de outubro, em São
Paulo, poderá ser eleito Educador do Ano na cerimônia oficial do prêmio. Com
informações de Veja
0 comentários:
Postar um comentário