Pais querem filho sem gênero: “o bebê decidirá se
será menino ou menina”
Criança
pernambucana deve ser criada como agênera
por Jarbas Aragão
O nome da criança é Ariel
Carneiro dos Santos, mas seus pais decidiram que ela será criada como
“agênera”, isso é, caberá a ela decidir se será menino ou menina.
Curiosamente, no mesmo dia em
que Ariel nasceu, 4 de julho, a imprensa noticiava o caso do primeiro bebê no mundo que
recebeu um cartão de saúde sem identificação de gênero. O canadense Searyl Atli
usa um “U” na área reservada ao sexo, o que seria uma letra identificando como
sexo indefinido.
Lá, como cá, um dos pais é
transgênero. O “pai afetivo” de Ariel é Yudi dos Santos, 25 anos, que já teve
uma identidade feminina. Em 2015, ele teve um relacionamento com Taynan dos
Prazeres, a mãe de Ariel. Contudo, durou pouco tempo. Aos 17 anos, Taynan
conheceu André dos Santos, o pai biológico da criança.
Acabaram se separando e,
durante a gravidez, Yudi e Taynan reataram. Hoje, tentam criar Ariel em um
arranjo familiar mais baseado em uma ideologia que na natureza. “Se olham
no meu braço e falam ‘é lindo”, eu continuo a conversa. Se falam ‘é linda’, não
corrijo a pessoa e deixo quieto. Entendo que é uma questão cultural que nos
leva ao binarismo”, explica a mãe.
Por decisão dos pais, a
criança só vestirá roupas em cores neutras (branco, amarelo, verde ou colorido
em tons pastéis). Seus brinquedos incluirão carros, martelos, cozinhas com
florzinhas e bonecas. “Porque só precisa brincar com o brinquedo que tiver
vontade e ser o que ele quiser”, insiste a mãe.
O discurso está ensaiado:
quando perguntam se Ariel é menino ou menina, os dois respondem de pronto: “É
apenas uma criança. Um bebê livre”. Taynan participa de movimentos LGBTs
em Pernambuco e acredita que deu à luz a uma “criança fora dos padrões”.
“Na verdade, Ariel
acrescentou na nossa militância”, diz Yudi que é vice-coordenador do Instituto
Brasileiro de Transmasculinidade em Pernambuco e segundo-secretário da
Associação de Homens Trans e Trans-masculinidade.
Eles acreditam que estão
gerando uma tendência. “Começamos a ver outros casos de gestação iguais à de
Taynan e de pessoas que querem os mesmos para seus filhos”, afirmaram ao jornal O Globo.
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