FOME
SE ALASTRA NA ÁFRICA E ATINGE MILHÕES DE PESSOAS
ONU admite: “Nunca antes havíamos
enfrentado tantas ameaças de fome em vários países simultaneamente”
por Jarbas Aragão
Dezenas de milhões de pessoas enfrentam uma grande fome que atinge a
bacia do Lago Chade, incluindo Sudão do Sul, Nigéria, Somália e porções de
Camarões e Chade. A situação foi classificada pela Organização das Nações
Unidas (ONU) como a “pior crise humana desde 1945”.
O Iêmen, país mais pobre do Oriente Médio, também é atingido e ali a
situação se agrava com a guerra civil que começou na Primavera Árabe em 2011.
Calcula-se que 17 milhões de pessoas – dois terços da população – padece com
insegurança alimentar, e quase metade delas necessitam ajuda de emergência.
Segundo a delegação do Conselho de Segurança das Nações Unidas que
esteve na região, o investimento necessário é de US$ 4,4 bilhões (R$ 13,9 bilhões)
para que se evite um desastre. Mas o dinheiro precisa ser investido até julho,
pois a situação é gravíssima.
O coordenador da ajuda humanitária das Nações Unidas, Stephen O’Brien,
diz não saber se eles conseguirão evitar a maior catástrofe dos 70 anos de
história das Nações Unidas.
A maioria das vítimas dessa tragédia são crianças. Mais de 1,4 milhão
correm o risco de morrer nos próximos meses.
Um dos motivos para isso são os ataques do grupo terrorista islâmico
Boko Haram. Os jihadistas têm impedido a plantação no entorno do lago Chade e o
acesso dos agricultores para fornecer água para seus animais. Pescadores também
foram impedidos de acessar o lago, que é compartilhado entre Camarões, Níger,
Nigéria e Chade.
A seca na Somália faz com que 6,2 milhões de pessoas, a metade da
população do país, atravesse uma “aguda insegurança alimentar”.
Mais de 5 milhões de pessoas não terão acesso à água potável na Etiópia,
no Quênia e na Somália, este ano. Somente no Quênia, mais de 2,7 milhões de
pessoas precisam de ajuda humanitária. Já na Etiópia, 3 milhões de mulheres e
crianças estão com desnutrição aguda.
No Sudão do Sul, os conflitos armados e a pobreza do país fizeram com
que, atualmente 4,9 milhões de pessoas são classificadas como em situação de
crise, emergência ou fome. A previsão é que esse número aumente para 5,5
milhões – quase metade da população do país -, na temporada de escassez de
julho.
Sem precedentes
O relatório da FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e
a Alimentação, aponta que 37 países, 28 deles na África, precisem de ajuda
alimentar externa. Os combates e distúrbios civis no Afeganistão, Burundi,
República Centro-africana, República Democrática do Congo, Iraque, Myanmar e
Síria também estão agravando a insegurança alimentar de milhões de pessoas, e
afetando os países vizinhos que abrigam os refugiados.
“Esta é uma situação sem precedentes. Nunca antes havíamos enfrentado
tantas ameaças de fome em vários países simultaneamente”, afirmou, Kostas
Stamoulis, diretor-geral adjunto da FAO. Com informações das agências