“Terrorismo gospel” é tema
de debates nas redes
Postagem “provocativa”
pede que jovens invadam as igrejas
por Jarbas
Aragão.
Podia ser apenas
mais uma postagem no Facebook, como outras centenas de milhares que são
divulgadas na rede social todos os dias. Podia, mas não foi. Quando o
evangélico Ronilson Pacheco, que afirma ser um “interlocutor social”,sugeriu que as igrejas evangélicas fossem invadidas, logo
as reações refletiram o quadro político que o país atravessa.
Compartilhada e
comentada durante vários dias, a ideia tomou corpo. Logo surgiram posts em
blogs de evangélicos e vídeoquestionando as intenções do autor e o temor que
pudesse se tornar realidade.
Estudantes em São
Paulo, ligados a movimentos sociais de esquerda, invadiram escolas da rede
pública em diferentes ocasiões. O objetivo era “forçar” as autoridades a
debater questões relacionadas com a educação e protestar contra a “máfia da
merenda”.
Contudo, logo ficou
claro que é um movimento mais político que cívico. Logo, eles passaram a ocupar
outros prédios públicos. Em alguns casos, o único resultado das invasões foram
depredações e saques nos locais, além de furtos de equipamentos.
Ainda assim, a
ideia ganhou força e logo movimentos parecidos surgiram em vários outros
estados. O maior é o “Ocupa Escola”, segundo a Secretaria Estadual de Educação,
entrou em 67 escolas da rede pública do Rio de Janeiro nos últimos meses.
Ronilson, que é
ligado a ONG “Viva Rio”, tentou aplicar a mesma lógica, sugerindo que igrejas
fossem invadidas para forçar os pastores a dialogar e assim modificar suas
atitudes como pretensamente têm feito as autoridades em São Paulo e no Rio.
Parte do texto diz
que a iniciativa seria justificável “porque a maioria delas trai o chamamento
de Jesus, quando o que ele nos convida a viver como uma comunidade aberta,
coletiva e acolhedora, cuja força está na fragilidade da sensibilidade que
evoca o amor, é transformado em uma espécie de comunidade segura e
exclusivista, pesadamente institucionalizada, que quer decidir quem tem acesso
a Deus e quem não tem, controlando comportamentos e fomentando a superioridade
dissimulada de ‘certeza da salvação’”.
Por mais falaciosa
que seja, a argumentação de Ronilson parece ter ganhado respaldo daqueles que se intitulam evangélicos progressistas.
Gerando reações e apoios, foi debatida e até elogiada por algumas páginas no
Facebook.
A retórica é a
mesma de sempre, tratam indiscriminadamente todos os pastores como
“vendilhões”, os templos como “desnecessários”, além de usarem vários
versículos bíblicos para dar suporte ao um discurso que claramente ecoa a
retórica esquerdista de que assim se resolverão os problemas.
Rapidamente
começaram a dizer que Jesus foi um “ocupador de sinagogas”, num exercício de
contextualização que desafia a narrativa do Novo Testamento. Não por acaso,
movimentos como MST usam argumentos similares para invadir e saquear fazendas e
terras produtivas. Em alguns casos, com apoio de líderes religiosos.
Podia ser apenas
mais uma ideia maluca no Facebook, como outras centenas de milhares que são
divulgadas na rede social todos os dias. Podia, mas não foi.
A página da Mídia Ninja, grupo pseudojornalístico que
presta serviços ao Partido dos Trabalhadores, foi uma das primeiras a lançar a
campanha #ocupatudo, como forma de “resistência” e de protesto contra o “golpe”
contra Dilma, alardeado dioturnamente pelos partidos de esquerda, como PT,
PSOL, Rede e PCdoB.
Algumas postagens
de grupos afinados ideologicamente com esse discurso, já começaram a incluir as
igrejas na “lista” de locais que deveriam ser alvo desse tipo de protesto.
Assinada pelo
pastor Yago Martins, no site Teologia Política, a resposta foi assertiva: “O
argumento de que o que importa na fala de Ronilso é a denúncia ao abuso da
dominação das igrejas por pastores que não guiam a comunidade para o serviço
social também não cola… Para Ronilso, isso se dará através de invasão de
prédios de culto, e ignorá-lo é fazer vista grossa a apologia de terrorismo
gospel”.
Já o filósofo e
teólogo Guilherme de Carvalho também não poupou críticas “o indivíduo, que gostaria de ser
um radical pela justiça e pela fé mas prega, efetivamente, a baderna e, agora,
a intolerância religiosa. E choca-me ainda mais a aprovação que recebe por uma
penca de ovelhas desvairadas”.
Até o momento, não
há notícias de que igrejas tenham sido invadidas. Entretanto, é preocupante que
grupos se utilizem a mesma retórica de tons socialistas da década de 1970 para
tentar “redefinir” a força quais são as funções das igrejas.
Por mais equívocos
que líderes religiosos possam cometer em suas igrejas e ainda que o conteúdo
das pregações não esteja em harmonia com os ensinamentos bíblicos, basta
lembrar que quem vem ocupando igrejas por acreditar que elas não estão sendo um
espaço útil à sociedade são os soldados do Estado Islâmico.
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