SBT
DEFENDE CRIANÇAS TRANSGÊNEROS LOGO APÓS APRESENTAR CHAVES
Programa mostra caso em que mãe
diz ter feito “combinado com Deus”
por
Jarbas Aragão
A flautista Uiara Pimenta, 31, é mãe de duas crianças. A mais velha,
Olívia, aos 4 anos decidiu mudar de sexo e teve o apoio da genitora para que
ela se transformasse em Oliver.
Atualmente com sete anos, a criança é mais uma acompanhada pelo
Instituto de Psiquiatria do HC da USP, onde fará um tratamento para retardar a
chegada da puberdade.
O caso foi apresentado esta semana no programa Fofocalizando, exibido às
tardes no SBT. Seus apresentadores são Décio Piccinini, Mara Maravilha, Leão
Lobo e Mamma Bruschetta, personagem transgênero do ator Luís Henrique
Benincasa.
Piccinini apresentou a história afirmando que Uiara “vestiu a capa de
supermãe para vencer o preconceito e fazer do mundo um lugar melhor”. Abaixo
das imagens, a barra produzida pelo programa dizia “A emocionante história de
uma criança transgênero”.
A matéria iniciou dizendo que “as crianças transgênero estão cada vez
mais presentes na sociedade” e lembrou o caso de Shillo, filha de Angelina
Jolie e Brad Pitt que aos 9 anos passou a se vestir como menino e pede para ser
chamada de “John”.
Durante cinco minutos o relato da mãe mostrou que Olívia dava sinais
desde cedo de que tinha desejo de se vestir como menino e que tinha preferência
por brinquedos comuns ao sexo masculino.
Também mostrou como a genitora sempre estimulou a criança, cortou o
cabelo curto e lhe presenteou com roupas masculinas. Relatou suas lutas “contra
o preconceito” na escola da criança e dentro da família, dando a entender que o
pai da criança, de quem é separada, não aceita a situação.
Para Uiara, o momento definidor foi quando a sua filha mais nova,
Cecília, contraiu a gripe H1N1 e foi para o hospital. “Quase perdi a minha
menina, quando ela não morreu, eu fiz um combinado com Deus… Se ela vivesse, eu
aceitaria que meus filhos não são meus, são do mundo”.
Leão Lobo, que é ativista do movimento gay, disse ter se identificado
com o relato e que “passou o mesmo” na infância, dando os parabéns à Uiara por
ter dado “abertura”. Já Mara Maravilha, que tem uma conhecida carreira como
cantora evangélica, não se pronunciou.
Em especial por que neste horário muitas crianças estão na frente dos
televisores, afinal o Fofocalizando vai ar imediatamente após o programa
infantil “Clube do Chaves”.
Na entrevista que
deu à Folha de São Paulo esta semana, e que serviu de base para a matéria do
SBT, Uiara conta que recebe orientação do Ambulatório transdisciplinar de
identidade de gênero e orientação sexual do Hospital das Clínicas.
Ela já tomou uma decisão: “vamos bloquear a puberdade para evitar os
primeiros sinais de desenvolvimento feminino, a menstruação, os peitinhos…
Percebo que há essa cultura no Brasil de que é a mãe que cuida do que a criança
vai sentir. Não respeitam a vontade da criança”.
O Ambulatório é dirigido pelo psiquiatra Alexandre Saadeh, o mesmo
especialista entrevistado por Fátima Bernardes que afirmou atender meninos e
meninas com “3 ou 4 anos de idade” que acreditam ter nascido “no corpo errado”.
Algo que, para ele, “Não tem nada de errado”.