DONALD TRUMP DIZ QUE VETO À ENTRADA DE CIDADÃOS DE
PAÍSES DE MAIORIA MUÇULMANA "NÃO É QUESTÃO DE RELIGIÃO"
Ex-presidente americano Barack Obama critica
discriminação religiosa nos EUA após decreto de Trump
Apesar de decisões judiciais contrárias e uma
onda de protestos, o governo de Donald Trump não deu sinais de recuo quanto ao
veto à entrada de cidadãos de sete países nos Estados Unidos.
O presidente americano disse que vistos voltarão
a ser emitidos para estas pessoas quando "políticas de segurança mais
seguras" estiverem implementadas dentro de 90 dias e negou se tratar de
uma ação contra muçulmanos.
"Isso não é um questão de religião. É uma
questão sobre terror e manter nosso país seguro. Há mais 40 países de maioria
muçulmana que não foram afetados por esta ordem", disse ele em um
comunicado no Facebook.
Segundo Trump, o período de 90 dias dará às
agências governamentais tempo para desenvolver um sistema de controle mais duro
e garantir que vistos não sejam concedidos a indivíduos que representem uma
ameaça à segurança nacional.
A ordem executiva foi amplamente criticada.
Procuradores-gerais de 16 Estados disseram que ela é inconstitucional, e
diversos juízes emitiram decisões que suspendem temporariamente a deportação de
cidadãos dos países alvo da medida que tenham visto americano.
A ordem assinada por Trump na última sexta-feira
interrompeu por 120 dias o programa de acolhimento de refugiados, com um veto
sem prazo definido a sírios nesta situação, e uma suspensão à admissão de
cidadãos de sete países de população majoritariamente muçulmana - Iraque,
Síria, Irã, Líbia, Somália, Sudão e Iêmen.
A ordem executiva de Trump não se aplica a
algumas categorias de visto, como o diplomático.
Quem já estava em voos a caminho dos Estados
Unidos foi barrado ao chegar, mesmo estando com vistos válidos e outras
permissões de imigração. Não se sabe quantas pessoas foram impedidas de
embarcar rumo ao país em aeroportos ao redor do mundo.
Trump defendeu a política dizendo ser similar à
de seu antecessor, Barack Obama, implementada em 2011, "quando foi probida
a concessão de visto a refugiados iraquianos por seis meses".
"Os sete países da ordem executiva são os
mesmos previamente identificados pelo governo de Obama como fontes de
terror", destacou.
Trump disse ainda que os Estados Unidos são
"uma nação que se orgulha de imigrantes". "Para ser claro, essa
não é uma proibição a muçulmanos, como os meios de comunicação estão anunciando
falsamente."
O presidente americano também disse que
"seguirá sendo demonstrada compaixão pelas pessoas envolvidas na horrível
crise humanitária na Síria e que fogem da opressão". "Mas faremos
isso ao mesmo tempo em que protegemos nossos cidadãos e fronteiras."
Milhares de pessoas protestaram em diversos
Estados americanos no sábado contra a medida, e advogados ofereceram gratuitamente
seus serviços para liberar quem foi afetado. No domingo, novos protestos
ocorreram em frente à Casa Branca, em Washington, e na Trump Tower, em Nova
York.
No mesmo dia, Trump voltou a defender a medida
no Twitter. "Nosso país precisa de fronteiras fortes, checagens severas.
AGORA. Vejam o que está acontecendo em toda a Europa e, na verdade, no mundo -
uma desordem horrível!", afirmou.
"Um grande número de cristãos têm sido
executados no Oriente Médio. Não podemos permitir que esse horror continue!"
Um máximo de 50 mil refugiados serão aceitos no
país este ano, uma redução no limite de 110 mil determinado pelo ex-presidente
Barack Obama.
Será dada prioridade a minorias religiosas que
sofrem perseguição em seus países, mas há dúvidas sobre a aplicação prática
dessa determinação. Em uma entrevista na sexta-feira, Trump havia citado como
exemplo os cristãos da Síria.
Também foi suspenso o programa que permite que
funcionários de consulados isentem algumas pessoas da necessidade de fazer
entrevista pessoal no pedido de visto, no caso de estarem solicitando a
renovação da autorização antes de um ano da data expiração (o chamado Visa
Interview Waiver Program).
Exceções podem ser feitas, após análise caso a
caso. Especialistas disseram que viajantes devem estar preparados para um maior
tempo de espera para a concessão de vistos.
Críticas
Grupos de defesa de direitos humanos afirmaram
que o veto mira apenas muçulmanos por causa da crença deles e que isso é
passível de ações legais. Eles lembraram ainda que até agora nenhum refugiado
foi condenado por crimes ligados a terrorismo.
Também afirmaram que a maior parte dos ataques
contra os EUA foram feitos por cidadãos americanos ou cidadãos de países que
não incluídos no veto e citaram como exemplo o atentado à casa noturna Pulse,
em Orlando, em junho de 2016, realizado por um americano descendente de
afegãos.
Ainda foi bastante criticada a menção de Trump
ao ataque de 11 de Setembro, visto que nenhum dos 19 envolvidos veio dos países
vetados. Eles eram da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Líbano.
O ex-presidente americano Barack Obama disse
nesta segunda-feira, 30, que discorda frontalmente da discriminação com foco na
religião de outras pessoas.
Sem mencionar diretamente o decreto de seu
sucessor, Donald Trump, que proíbe a entrada de muçulmanos sírios e de outros
seis países nos Estados Unidos, o democrata disse que o presidente está
emocionado com a mobilização no país contra a proposta.
“Os valores dos Estados Unidos estão em risco”,
disse o porta-voz do ex-presidente, Kevin Lewis. “Os cidadãos estão exercendo
seu direito constitucional de reunião para fazer suas vozes serem ouvidas.”
Desde que deixou a presidência no dia 20, Obama
está de férias na Califórnia. Nos últimos dias na Casa Branca, ele disse que
deixaria espaço para Trump governar, mas se posicionaria no caso de violações
de valores democráticos básicos.
É incomum nos Estados Unidos que ex-presidentes
se pronunciem sobre assuntos de política de seus sucessores.
Fonte: BBC Brasil e Estadão